FOTO: JEFFERSON VELOSO (CENTRAL 98FM)
O cientista político Rudá Ricci, fala sobre o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff, votado no dia 12 de maio, no Senado. Foram 55 votos a favor, 22 contra.
Quais são os próximos passos após o afastamento de 180 dias da presidente?
Serão colhidas provas, pois é o início do processo de julgamento, presidido pelo Presidente do STF. Os senadores ouvirão quem convocarem para depor, inclusive a Presidente afastada, embora ela não tenha obrigação em aceitar depor. Também colherão provas documentais.
Quais foram os erros de Dilma Rousseff para a tomada deste processo?
Erros políticos, em especial. Como se trata de julgamento político, com baixa incidência de provas circunstanciais (tanto que no caso do impedimento de Fernando Collor, foi absolvido pelo Judiciário em todas acusações), a questão central é que o estilo autocrático e de baixa escuta, além da política errática em termos de política econômica, minaram sua base social e política. Temer, em certa medida, enfrentará o mesmo problema.
O que é necessário a presidente fazer para reverter essa situação?
A decisão foi tomada quando da votação do plenário da Câmara dos Deputados. A partir daí, vivenciamos um mero rito burocrático. A decisão política já foi tomada. Trata-se de um teatro.
Foi ética e certa a forma que a votação ocorreu no Congresso?
Não há ética na política nacional. 200 políticos estão denunciados por corrupção e 24 partidos. O presidente interino, Michel Temer, é ficha suja e não pode se candidatar a nada em 2018. Está envolvido em denúncias na Lava Jato. A decisão da Câmara foi presidida por um deputado que alguns dias depois teve seu mandato suspenso pelo STF. Enfim, todo o sistema partidário e de representação política está contaminado.
Para você, foi um erro a aliança entre PT e PMDB?
O erro foi o contorcionismo provocado pela cúpula do PT a partir de 1994. O ápice foi 2002, quando esta cúpula rasgou as decisões do partido em congresso. A Carta ao Povo Brasileiro não foi escrita a partir de consulta aos filiados ou direções partidárias país afora. Em 2005, quando do início das denúncias sobre o mensalão, José Dirceu convenceu Lula a alterar de vez a lógica de governo. O PMDB foi convidado a ingressar no governo, mas este foi só a ponta do iceberg. O programa Fome Zero foi retirado das mãos de Frei Betto e Ivo Poletto e foi entregue aos prefeitos. A partir daí, adotou-se a agenda rooseveltiana que não tem relação alguma com a agenda histórica do PT. Quando você sabe que só joga no time porque é dono da bola, a possibilidade de ser rejeitado diariamente é grande.
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Qual é a importância de Lula para que o PT não saia derrotado deste processo?
Lula não salvará o governo Dilma. Ao contrário. Aguardará os erros e problemas do governo Temer para se apresentar, lentamente, como alternativa para a população mais pobre em 2018. Há, inclusive, movimentações no Congresso Nacional para antecipar as eleições presidenciais.
Como será os 180 dias de governo de Michel Temer na Presidência do país?
Foi um golpe frio, como denominou o jornal Der Spiegel. Temer tem apenas 8% de apoio popular, segundo o IBOPE. O FMI projeta 10% de desemprego em 2017 e recessão ou estagnação no próximo ano. O governo Temer nasce fraco e os acordos que o fez chegar à Presidência da República sem voto serão cobrados insistentemente. Para piorar, o programa denominado “Uma Ponte para o Futuro” é explícito em sugerir cortes em direitos sociais (como aumento real do salário mínimo). Não tenho dúvidas que haverá uma forte oposição popular ao seu governo, principalmente a partir de 2017. O Brasil vai ingressar numa aventura perigosa.